Venda de salada de frutas na praia aos 80 anos: “Precisava comer”

Izabel Costa transformou dificuldades em inspiração e muita dedicação com a venda de frutas em Piúma | Clóvis Rangel

A maré da Praia Central de Piúma, na região Sul do Estado, também carrega histórias de luta e esperança. Entre elas, destaca-se a de Izabel Costa, uma mulher que transformou dificuldades em inspiração. Aos 80 anos, ela continua acordando cedo para preparar saladas de frutas e sai todos os dias para vendê-las na praia.Com um sorriso sereno e olhos que refletem a sabedoria do tempo, recorda os dias em que, sob o sol escaldante, percorria a orla para garantir o sustento da família. Com o dinheiro das vendas, criou os dez filhos e construiu, tijolo por tijolo, a casa onde mora até hoje, no bairro Itapitanga, em Piúma.“Criei meus filhos e construí minha casa com o que ganhava vendendo saladas de frutas na praia”, relembrou.A trajetória de Dona Izabel começou há mais de cinco décadas. Com poucos recursos, mas uma determinação inabalável, encontrou nas praias da cidade a oportunidade de mudar de vida. Munida de uma cesta de vime e muita força de vontade, passou a vender saladas de frutas para turistas e moradores locais.Chovesse ou fizesse sol, lá estava ela, de passos firmes e olhar esperançoso. Com os lucros modestos das vendas diárias, conseguiu alimentar os filhos, pagar os estudos e, com muito esforço, guardar dinheiro para comprar um pequeno terreno. Com a ajuda de vizinhos e amigos, ergueu a casa que se tornou um símbolo de resiliência na região onde mora. “O segredo era o carinho que eu colocava em cada potinho. Sempre fazia tudo com amor, porque sabia que dali viria o sustento dos meus filhos”, contou emocionada.Os filhos cresceram, seguiram diferentes carreiras, e a matriarca, já aposentada, poderia ter descansado. Mas a vontade de se manter ativa prevaleceu. “Não sei ficar parada. Faço doces, bolos, salgados, tortas e adoro ver a casa cheia de netos e bisnetos”, concluiu.“Comecei porque precisava comer”A Tribuna: Como começou a vender salada de frutas?Izabel Costa: Comecei porque precisava comer. Meu marido trabalhava na pesca, mas nem sempre o dinheiro dava. Um dia, fiz uma bacia de salada de frutas e vim pra praia. No primeiro dia, vendi tudo. Nunca mais parei.Criar dez filhos com esse trabalho não foi fácil, né?Nem um pouco. Mas Deus me deu força. Eu acordava de madrugada pra comprar fruta fresca e preparava tudo antes do sol nascer. Depois, botava os meninos pra escola e ia pra praia vender. No começo, era só uma bacia. Depois, comprei um isopor. Mais tarde, fiz um carrinho.Como conseguiu a casa própria?Tijolo por tijolo, pago com salada de frutas. Não tinha luxo, mas tinha teto pra meus filhos dormirem.Já pensou em parar?Uns falam: ‘A senhora já trabalhou demais’. Mas o que vou fazer? Ficar em casa vendo TV? Não. Enquanto Deus der saúde, vou estar aqui.E o que você mais gosta nesse trabalho?Conversar com as pessoas. Uns me conhecem desde criança, e agora trazem os filhos. Me deixa feliz.O segredo pra durar tanto tempo nesse ofício?Amar o que faz. E nunca economizar na fruta boa!

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