Canadá anuncia tarifas de 25% sobre produtos dos EUA em resposta a medidas de Trump

O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, anunciou neste sábado, 1, que o Canadá e o México estão trabalhando juntos para combater as tarifas de 25% que os Estados Unidos impuseram aos dois países.

Trudeau revelou que conversou com a presidente do México, Claudia Sheinbaum, pouco após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinar os decretos que, a partir de terça-feira, aplicarão uma tarifa de 25% sobre as importações provenientes dos dois países.

A decisão foi considerada pelo Canadá como uma declaração de guerra comercial. Em resposta, o país decidiu impor tarifas de 25% sobre 155 bilhões de dólares canadenses (106,5 bilhões de dólares) de produtos dos EUA.

Em entrevista coletiva, Trudeau disse que “30 bilhões de dólares canadenses entrariam em vigor a partir de terça-feira (4) e 125 bilhões de dólares canadenses em 21 dias”.

Analistas apontaram que, caso as tarifas sejam mantidas, o Canadá poderá entrar em recessão em seis meses.

Passos de retaliação

A presidente do México, Claudia Sheinbaum, disse em um post no X na noite de sábado que instruiu o Ministro da Economia, Marcelo Ebrard, a “implementar o Plano B” no qual sua administração vem trabalhando para lidar com as tarifas há muito prometidas por Trump. O plano inclui medidas não tarifárias, segundo ela, sem oferecer detalhes sobre quais produtos serão afetados.

Ainda assim, Sheinbaum insistiu que a cooperação em segurança, migração e crise do fentanil — todos focos da campanha presidencial de Trump — seria o melhor caminho a seguir.

“Não é impondo tarifas que os problemas são resolvidos, mas falando e dialogando, como fizemos nas últimas semanas com seu Departamento de Estado para abordar o fenômeno da migração”, disse Sheinbaum.

A economia mexicana pode entrar em uma “recessão severa” caso as tarifas de Trump permaneçam por mais de um trimestre, segundo Gabriela Siller, diretora de análise econômica do Grupo Financiero Base. O México envia mais de 80% de suas exportações para os EUA, seu principal parceiro comercial.

“Se as tarifas durarem vários meses, a desvalorização do peso mexicano pode atingir níveis recordes”, avaliou Gabriela.

Trudeau, por sua vez, disse que cervejas, vinhos, alimentos e eletrodomésticos dos EUA estarão entre os produtos sujeitos às tarifas canadenses e mencionou possíveis restrições relacionadas a minerais. Ele incentivou os canadenses a comprarem produtos locais e evitarem viagens aos EUA.

China promete abrir processo na OMC

O Ministério do Comércio da China prometeu abrir um processo legal na Organização Mundial do Comércio (OMC) em comunicado no domingo, mas não ameaçou explicitamente novas tarifas em retaliação. O governo do presidente Xi Jinping tem adotado uma abordagem cautelosa com Washington nos últimos meses, evitando medidas que escalem as tensões.

As tarifas de Trump reforçam sua advertência aos três países por, segundo ele, falharem em impedir o fluxo de migrantes indocumentados e drogas ilegais, embora o presidente dos EUA tenha sinalizado a possibilidade de recuar caso México e Canadá tomassem medidas para atender às suas preocupações.

As ordens do republicano também incluem cláusulas de retaliação, que aumentariam ainda mais as tarifas dos EUA caso os países decidam responder da mesma forma. As novas medidas se somam às tarifas comerciais já existentes.

As importações de energia do Canadá, incluindo petróleo e eletricidade, serão poupadas da tarifa total de 25% e enfrentarão um imposto de 10%. Autoridades da Casa Branca afirmaram que isso visa minimizar a pressão sobre os preços da gasolina e do óleo de aquecimento residencial.

Nova fase da guerra comercial

A disputa tarifária entre as principais economias do mundo, com Trump alertando que a Europa também está na mira, adiciona novos desafios ao crescimento global, às margens de lucro de empresas que enfrentarão impostos de importação mais altos e aos mercados financeiros que precisarão se ajustar a novos fluxos comerciais.

“Isso marca uma nova fase da guerra comercial, que atinge múltiplos países, incluindo aliados e a China, para atender aos objetivos econômicos e geopolíticos dos EUA”, disse Gary Ng, economista sênior da Natixis SA.

Em ordem executiva publicada no site da Casa Branca, Trump se baseou na “International Emergency Economic Powers Act”, uma lei da década de 1970 que concede ao presidente amplos poderes tarifários em emergências nacionais. Ele já havia ameaçado o México com essa medida em 2019, mas as negociações encerraram a disputa antes de sua aplicação.

As respostas de três dos maiores parceiros comerciais dos EUA vieram logo após Trump assinar as ordens tarifárias no sábado. As medidas entram em vigor às 00h01 de terça-feira, deixando uma pequena janela para negociações de última hora.

Efeito nas cadeias de suprimento

A decisão de Trump tem grande impacto e vai além das tarifas impostas em seu primeiro mandato. As taxas elevadas aumentarão o custo de bens essenciais, como alimentos, moradia e gasolina para os americanos, enquanto os efeitos se espalharão pelos países afetados, que representam quase metade das importações dos EUA.

Trump fez campanha prometendo tarifas extensas e agora as concretizou, embora tenha suavizado medidas contra a China e aumentado as taxas sobre seus vizinhos. A maioria dos economistas e grupos empresariais alerta que esses impostos comerciais podem desorganizar cadeias de suprimentos, elevar preços para consumidores já preocupados com a inflação e reduzir os fluxos globais de comércio.

Montadoras como General Motors, Ford e Stellantis, que possuem cadeias de suprimentos globais e forte exposição ao México e Canadá, podem sofrer grandes oscilações. Grupos da indústria alertaram que, devido à profunda integração da manufatura entre os EUA e o Canadá, as tarifas iminentes podem causar um impacto severo no setor.

Canadá faz apelo

As ordens executivas que preveem as tarifas incluem um processo para a remoção das taxas. A secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, poderá informar Trump caso México e Canadá adotem medidas consideradas satisfatórias para conter a migração e o tráfico de drogas. Se ele concordar, as tarifas seriam suspensas.

No entanto, a viabilidade dessa possibilidade é incerta. O Canadá, por exemplo, já reforçou o controle em suas fronteiras na tentativa de agradar Trump, mas não conseguiu evitar as novas tarifas.

Em um discurso na noite de sábado, Trudeau invocou a longa história de parceria do Canadá com os EUA. “Nós lutamos e morremos ao lado de vocês”, disse, citando a Segunda Guerra Mundial, a Guerra da Coreia e a recente guerra no Afeganistão.

“Juntos, construímos a parceria econômica, militar e de segurança mais bem-sucedida que o mundo já viu”, disse Trudeau, pedindo a Trump que faça parceria com o Canadá em seus desafios compartilhados.

Embora a União Europeia não estivesse entre os alvos das ações executivas de Trump sobre comércio no fim de semana, ele frequentemente reclama do que vê como tratamento injusto às exportações americanas, como carros vendidos na Europa.

No domingo, o ministro das Finanças alemão, Joerg Kukies, alertou contra reações exageradas.

“Não se deve reagir em pânico à primeira decisão, mas sim vê-la como o início das negociações, não o fim”, disse Kukies a representantes empresariais alemães em Riad, no início de uma viagem que visava melhorar os laços comerciais no Oriente Médio.

Prejuízos aos EUA

“A imposição de tarifas será prejudicial aos empregos, investimentos e consumidores americanos”, disse Jennifer Safavian, presidente da Autos Drive America. “As montadoras dos EUA seriam mais bem atendidas por políticas que reduzissem as barreiras para os fabricantes, facilitassem as regulamentações que dificultam a produção e criassem maiores oportunidades de exportação.”

As ações de Trump também fecharam uma brecha que isentava pacotes com valor inferior a US$ 800 de tarifas. Extinguir a chamada “isenção de minimis” para pequenas encomendas enviadas para os EUA dos três países poderia impactar significativamente o varejo online — embora o escopo da medida não tenha ficado claro.

Embora tais mudanças afetassem mais diretamente os varejistas chineses, os consumidores americanos que se beneficiam dos produtos baratos dessas plataformas provavelmente também sofreriam.

Os EUA perdem uma quantidade enorme de receita tarifária ao usar a isenção, disse uma autoridade americana a repórteres em uma teleconferência.

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