Aécio Neves e Marconi Perillo vão passar à história como coveiros do PSDB?

O PSDB foi fundado em 25 de junho de 1988 — há 36 anos — e registrado, oficialmente, em 1989. Saiu de uma “costela” do MDB com o objetivo de arejar a política patropi. Entre os membros da primeira geração estavam Mário Covas (o político que impediu a aliança do partido com Fernando Collor de Mello), Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro, Afonso Arinos, José Richa e José Serra. Depois chegaram Tasso Jereissati, Aécio Neves, Henrique Santillo (se filiou ao PT, com Joaquim Roriz, mas acabou no ninho tucano), Geraldo Alckmin (hoje no PSB) e Marconi Perillo.

Desde o início, por causa da ave símbolo, os peessedebistas foram chamados de tucanos. Dada a moderação — característica básica dos democratas —, os membros do Partido da Social Democracia Brasileira passaram a ser vistos como artífices da “política do muro” ou da indecisão.

Na verdade, o PSDB, como o nome indica, é um partido tipicamente socialdemocrata; portanto, de centro-esquerda.

Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas e José Roberto Magalhães Teixeira | Foto: Reprodução

No momento, assiste-se à demonização do PT — legenda de esquerda — pelo bolsonarismo. O PT não é comunista — é tão socialdemocrata quanto o PSDB, com uma pegada mais social, digamos assim —, mas quem trafega pelas redes sociais fica com a impressão, se não tiver “couro grosso” para o distanciamento crucial do viés ideológico da direita, de que se trata de uma legenda semelhante (ou igual) à dirigida por Ióssif Stálin na União Soviética, Mao Tsé-tung na China e Fidel Castro em Cuba.

Nada disso é verdadeiro, mas passa por tal, dada a força do bolsonarismo nas redes sociais.

Durante anos, com o objetivo de ocupar seu espaço e de retirá-lo do jogo político, políticos e intelectuais do PT disseram e escreveram que Fernando Henrique Cardoso e o PSDB eram neoliberais. Não eram. Quem governa um país capitalista sabe — assim como FHC e Lula da Silva — que seus princípios básicos “não” podem ser contestados. Exceto, claro, se o governante avaliar que é possível “contorná-los”, adotando um novo sistema.

FHC e Lula da Silva não são anticapitalistas, mas não são afeitos ao capitalismo que ignora o social (como é o caso de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, e de Javier Milei, presidente da Argentina). Porque sabem que os “retardatários” — aqueles que são deixados para trás pelas políticas capitalistas — precisam do amparo do Estado. A rigor, Fernando Henrique Cardoso e Lula da Silva são quase irmãos siameses.

Fernando Henrique Cardoso e Lula da Silva, ainda aliados, distribuem panfletos na porta da fábrica da Volkswagen, em São Paulo, em 1978 | Foto: Clóvis Granchi Sobrinho/Veja

Privatizar a telefonia — um bem para o país — é um ato liberal, por certo. Mas não significa que o governo que fez a privatização seja liberal.

As políticas sociais do governo de FHC, definidas pela antropóloga Ruth Cardoso e pela ex-senadora Lúcia Vânia, eram socialdemocratas e não diferiam, no geral, das adotadas pelo PT.

A criação do Fundef (tucano) — depois Fundeb (petista) — viabilizou a educação pública em todos os municípios. A custo alto para o Estado. Trata-se de uma política do Estado do Bem-Estar Social; portanto, nada liberal. São, aliás, políticas de Estado, não só de governos.

Plano Real estabilizou a economia do país

Em 1992, quando Fernando Collor caiu — depois de caçar marajás acabou cassado —, o vice Itamar Franco se tornou presidente. O político de Minas Gerais, político decente e experiente, teve a sorte de contar com a intelligentsia política e econômica do PSDB.

Itamar Franco não tinha um grupo de economistas experimentados ao seu lado. A indicação do sociólogo e senador Fernando Henrique Cardoso para o Ministério das Relações Exteriores e, em seguida, para o Ministério da Fazenda foi decisiva para agregar uma equipe econômica de alto nível.

Com Fernando Henrique Cardoso (hoje, com 93 anos) chegaram técnicos do gabarito de Pedro Malan, Edmar Bacha, Pérsio Arida, André Lara Resende e Gustavo Franco. Todos economistas que sabiam operar as estruturas capitalistas do país e suas conexões com o mercado internacional.

Diz-se que o Plano Real é do governo de Itamar Franco, e claro que é. Mas sua formulação é toda da equipe de Fernando Henrique Cardoso — intelectuais de primeira qualidade, como Edmar Bacha, Pérsio Arida e André Lara Resende.

Antes de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso pensava-se em planos econômicos com o objetivo menos de recuperar e estabilizar a economia e muito mais de usá-los para ganhar as próximas eleições.

O Plano Real era e é diferente, pois visava recuperar o país de maneira global e sem enganações. Em pouco tempo, a inflação cedeu e a economia voltou a crescer. Tratava-se de um plano, atuando no curto prazo, para operar no longo prazo.

Sobretudo, o Plano Real estabilizou o país, sua economia, e gestou uma confiança ampla da população no governo de Itamar Franco e do “primeiro-ministro” Fernando Henrique Cardoso.

O PT atacou, de maneira feroz, o Plano Real. Por que achava que era ruim para o país e os brasileiros? Não. Porque avaliava que, se desse certo, Lula da Silva não ganharia a eleição seguinte.

De fato, em 1994, os brasileiros elegeram Fernando Henrique Cardoso presidente da República no primeiro turno. Quatro anos depois, o reelegeram, novamente no primeiro turno. O Plano Real continuava sendo seu principal “general” eleitoral. Lula da Silva, do PT, perdeu duas vezes seguidas para o PSDB de FHC.

O ocaso do PSDB e a era dos coveiros

A partir de 2002, porém, o PSDB de Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves se tornou freguês do PT. Perdeu para Lula da Silva, em 2002 e 2006, e para Dilma Rousseff, em 2010 e 2014. Os tucanos não se renovaram e os brasileiros, cansados de seu discurso, resolveram trocá-los pelos reds do PT.

Pintura de Edvard Munch

O PSDB ainda resistiu por algum tempo nos Estados, mas, aos poucos, foi perdendo substância política. É lamentável, porque o país precisa se um partido de centro forte e ideologicamente definido, para contribuir para equilibrar o jogo político geral, evitando a polarização excessiva entre direita e esquerda, o que, em geral, leva à radicalização do processo e, às vezes, põe em risco a democracia.

O PSDB sucumbiu porque, tendo “comido” toda a carne do osso do Plano Real, não soube apresentar outra contribuição ao desenvolvimento do país. O PT, “mais social”, poderia ser a solução, entenderam os eleitores. Por isso deram dezesseis anos de poder ao PT (o partido ficou menos no governo porque Dilma Rousseff sofreu impeachment).

Em 2025, o PSDB deve ser considerado um partido nanico — conta com um senador e 14 deputados federais — mas com pose de coronel decadente. Ante a iminência do “enterro” há quem queira escapar já no velório. Para não ser “enterrado” junto.

À beira da extinção, o PSDB não tem mais líderes da estatura de Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso. Apequenou-se à medida que seus melhores quadros morreram ou envelheceram (retirando-se do dia a dia da política).

O presidente nacional do PSDB é o goiano Marconi Perillo, de 61 anos, mas quem o opera de fato é o deputado federal Aécio Neves, de 64 anos. Primeiro, porque tem mandato. Segundo, porque o tucano de Goiás, além de não ter mandato, vem de duas derrotas consecutivas (e chegou a ser preso pela Polícia Federal).

Aécio Neves e seu porta-voz, Marconi Perillo, sabem que o PSDB está à beira da extinção. Mas extinção é uma palavra (e um ato) muito forte. Porque aqueles que a operarem ficarão com a imagem de coveiros do partido.

Num primeiro momento, Aécio Neves e Marconi Perillo tentaram uma federação com o Cidadania. Não deu certo. O partido apequenou-se ainda mais.

Agora, Aécio Neves e Marconi Perillo tentam acabar — sim, extingui-lo — com o PSDB via fusão.

A palavra fusão é, ao menos no caso, sinônimo de extinção. Porque, se fundir com o MDB de Baleia Rossi ou com o PSD de Gilberto Kassab, o único partido que irá desaparecer será o PSDB. MDB e PSD continuarão existindo. Noutras palavras, o PSDB será extinto, com Aécio Neves e Marconi Perillo se tornando coveiros do partido.

Há também as questões regionais. No caso de fusão com o MDB, Marconi Perillo, por não ter mandato e não ter o apoio de bases expressivas em todo o Estado de Goiás — tem uma deputada federal, Lêda Borges (que vai se filiar ao União Brasil ou, no caso de fusão, pode marchar para o MDB) —, não ficará com o comando partidário.

Então, no caso de fusão com o MDB, Marconi Perillo terá de migrar para outro partido, como o PSD. O problema é que o PSD em Goiás, sob o comando do senador Vanderlan Cardoso, pode não aceitá-lo como líder e, mesmo, filiado.

Aliados dizem que Marconi Perillo fala em disputar o governo de Goiás em 2026. Mas com qual partido e com quais alianças partidárias? Figuras racionais que persistem ao seu lado recomendam que seja candidato a deputado federal, com o objetivo de retornar, de fato, ao jogo político (seu modelo deveria ser o de Aécio Neves). É hora de pôr os pés no chão, de não ser, como dizia Fernando Henrique Cardoso, nefelibata.

O experimentado Golbery do Couto e Silva dizia que, “no bojo de uma derrota”, outras viriam na sequência. É o que tem acontecido com o tucano.

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