Ar de superioridade moral de Raquel e Priscila se diluiu com nomeações de ex-prefeitos e ex-vereadores

Por Larissa Rodrigues
Repórter do blog

A governadora Raquel Lyra (PSDB) foi eleita em 2022 tendo como bandeira principal a mudança. Tanto é que, pouco depois de assumir Pernambuco, sua propaganda alardeava “Estado de Mudança”. Durante a campanha, quis se mostrar diferente do PSB em todos os aspectos, mesmo tendo sido socialista um dia.

O PSB, inclusive, é o mesmo partido que foi severamente criticado por anos e anos pela ex-deputada estadual Priscila Krause (Cidadania), hoje vice-governadora do Estado. O ex-governador Paulo Câmara e o ex-prefeito do Recife Geraldo Julio não tiveram sossego enquanto Priscila era deputada, como deve ser, aliás.

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Enquanto parlamentar, Priscila exercia com zelo, eficiência e retidão o seu papel de fiscalizar. Foi fundamental para imprimir à chapa liderada por Raquel Lyra a imagem de mudança, espalhar o frescor dos novos tempos. Naquele pleito, em 2022, boa parte dos pernambucanos e pernambucanas esperava por essa renovação. Foram vitoriosas, as duas, Raquel e Priscila, se vendendo como superiores, palmatórias do mundo.

Assumiram e logo deram início ao discurso de herança maldita. Tudo que o PSB tinha deixado para trás era uma terra arrasada, segundo elas. Prometeram reconstruir, ajeitar o Estado, fazer uma política diferente, a nova política, cuidar bem de cada centavo do dinheiro público, “sem deixar ninguém para trás”, como repete sempre que pode a governadora.

Mas, estando no poder, entre o falar e o fazer há um abismo imenso. Dois anos depois, distribuem cargos comissionados para ex-prefeitos e ex-vereadores, alegando que serão seus assessores, que vão melhorar a articulação política em todas as regiões do Estado, todos pagos com aquele mesmo dinheiro público que Raquel diz que gosta tanto de cuidar com atenção. Realmente, não deixou “ninguém para trás”.

Quando alguém do Governo é questionado sobre o assunto, devolve o questionamento: “e João Campos? Vá ver quantos cargos ele criou na Prefeitura do Recife para acomodar aliados”. O que tem a ver João Campos nesse caso? João Campos é do PSB, aquele partido que Raquel e Priscila querem tanto se diferenciar de suas práticas.

O argumento dos governistas só falta dizer que se João Campos faz, Raquel Lyra também pode fazer. Cadê a mudança? Em 2026, Raquel e Priscila precisarão de outra bandeira, não mais a da mudança.

NATURAL DA POLÍTICA – Outro argumento dos apoiadores de Raquel e Priscila é de que as nomeações de ex-prefeitos e ex-vereadores são “naturais da política”, que não há nada de errado. Pode não ser errado tecnicamente, mas moralmente é difícil de explicar que a governadora contratou políticos pagando com dinheiro público para que eles façam sua articulação nas cidades. O clientelismo na política foi tão normalizado que muitos se referiram a esse episódio com uma verdadeira ginástica argumentativa, tentando dar outros nomes ao absurdo, como “movimento”, “contemplar aliados”, palavras que mascaram a verdadeira face abusiva dessas nomeações.

Desespero – A quantidade de políticos contratada pela governadora mais pareceu uma atitude desesperada, a quase dois anos da eleição. Muito se falou que desde que assumiu, Raquel Lyra não fez política. Aí quer dizer que quando resolveu fazer, agora, em 2025, foi na base do toma lá dá cá? Essa é a nova política dela? Outra coisa: se uma chefe do Poder Executivo precisa pagar para ter articulação, é porque na verdade não tem.

Reforma na Casa Civil – Tem gente se perguntando, inclusive, quando começa a reforma nas instalações da Secretaria da Casa Civil de Raquel, já que a pasta vai receber mais de trinta novos assessores. Vai ter lugar para esse povo todo sentar? E computador para trabalhar?

Coniape 1 – Por falar na articulação política de Raquel, a governadora tentou tirar o prefeito de São Caetano, no Agreste, Josafá Almeida (União Brasil), da presidência do Consórcio Público Intermunicipal do Agreste Pernambucano e Fronteiras (Coniape). A entidade é um dos consórcios mais importantes do Estado e agrega 34 prefeitos. Segundo fontes deste blog, o Governo estava telefonando para prefeitos da base e que já tinham se comprometido com Josafá na tentativa de reverter os apoios para Chaparral (União Brasil), prefeito de Surubim. Tudo na surdina.

Coniape 2 – Um dos prefeitos até chegou a responder à investida do Palácio assim: “tá certo, eu mudo meu voto, mas só se a própria governadora ligar para mim”. A articulação palaciana falhou e ontem Chaparral resolveu abrir mão da disputa pela presidência do consórcio. A eleição para o Coniape será realizada na próxima segunda-feira, a partir das 9h, no Centro de Treinamento e Desenvolvimento (CESPAM), na rua Visconde de Inhaúma, 410, Térreo, no Bairro Maurício de Nassau, em Caruaru, e vai reconduzir Josafá Almeida.

CURTAS

Professores cansados de passar raiva – Os professores da Rede Estadual de Educação continuam com as mãos na cabeça. Cada salário é um susto e uma raiva. Não sabem quando terão paz na gestão Raquel Lyra. O Sintepe denunciou ontem (31) no Instagram que os valores de janeiro novamente estão errados. “O Governo do Estado novamente expõe a categoria ao constrangimento de receber seu salário com erros. O Sintepe já procurou o TCE e o MPPE e vai liderar um processo judicial contra o Estado”, informou o sindicato.

Brasília ferve 1 – A Câmara dos Deputados e o Senado escolhem, neste sábado, as novas Mesas Diretoras para os próximos dois anos. Antes nas mãos do Partido Progressistas (PP), com o deputado Arthur Lira (PP-AL), a presidência da Câmara deverá passar para o Republicanos, do ministro de Portos e Aeroportos Silvio Costa Filho.

Brasília ferve 2 – Na Câmara, depois de meses de articulações e com o próprio Silvio Filho trabalhando nos bastidores, o favorito é o deputado paraibano Hugo Motta (RP-PB), que pode se tornar o mais jovem presidente da Casa, com 34 anos. Já no Senado, o PSD, do ministro da Pesca, André de Paula, deve passar a cadeira para o União Brasil, já que o favorito é o senador Davi Alcolumbre (UB-AP). O atual presidente é o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Perguntar não ofende: a governadora vai distribuir mais quantos cargos comissionados para políticos até a eleição de 2026?

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