O vegano Al Gore e o CEO global da JBS falam a mesma língua em Davos

Só mesmo as mudanças climáticas, talvez o principal problema a ser resolvido pela humanidade para garantir sua existência no futuro, poderia unir o mais alto representante de um dos maiores frigoríficos do mundo e um vegano conhecido e reconhecido pela defesa do meio ambiente.

Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos e, e Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS, participaram nesta quinta-feira, 23 de janeiro, de um painel chamado “Um novo trilema: clima, desenvolvimento e a classe média”, parte da programação oficial do Fórum Econômico Mundial, que está sendo realizado nesta semana em Davos, na Suíça.

Eles dividiram o palco e convergiram nas opiniões. Tomazoni foi direto em sua fala. “Se quisermos enfrentar as mudanças climáticas, precisamos investir na agricultura”, disse.

Esse investimento passa, segundo o CEO global da JBS, pelo aporte de direcionamento de mais recursos destinados ao combate às mudanças climáticas para o desenvolvimento dos sistemas alimentares.

Sistema alimentar é um termo que resume todo o ciclo de vida de um alimento, desde a produção das matérias-primas no campo (ou no pasto, no caso das carnes da JBS) até o descarte de resíduos produzidos pelos consumidores e indústrias.

Os sistemas alimentares, porém, hoje são responsáveis por boa parte das emissões de gases do efeito estufa no mundo: o número gira entre 21% e 37% de todo o CO2 gerado hoje no mundo, segundo dados da FAO e do IPCC.

A adoção de práticas de agricultura regenerativa para que o carbono seja sequestrado no solo é tida como uma das principais saídas para reduzir a pegada de carbono gerada pelos sistemas alimentares.

O problema é que transformar todo um sistema de produção não é algo barato, leva tempo e vem se revelando como uma ferramenta necessária para a produção sobreviver no futuro.

Gore concordou com Tomazoni, dizendo que a remuneração pelos projetos de carbono podem ajudar no processo de mudança de sistema.

“Se compensássemos os agricultores com base nisso, isso os ajudaria a superar o período de transição de dois a três anos [necessário para um novo modelo de produção]”, afirmou Gore, que é sócio da gestora Just Climate, braço da Generation Investment Management, firma de Gore, que tem foco em investimentos sustentáveis e aportes em empresas que façam a descarbonização de suas cadeias.

A Just Climate chegou ao Brasil em 2024, sob a liderança do investidor de Eduardo Mufarej, com a proposta de investir em empresas de biológicos e de culturas agrícolas reconhecidamente associadas ao País como cacau, café e açaí.

O interesse, contudo, não é apenas monetário, na avaliação do ex-vice presidente dos Estados Unidos.

“Os agricultores querem isso porque os eventos climáticos extremos estão tornando suas fazendas mais vulneráveis à erosão hídrica e eólica”, acrescentou.

Tomazoni lembrou que, hoje, a maior parte dos valores direcionados para o enfrentamento às mudanças climáticas ainda não são direcionados para a transformação de sistemas alimentares.

Citando dados do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (IFAD, na sigla em inglês), da Organização das Nações Unidas (ONU), o CEO global da JBS disse que somente 4% de todo o investimento feito no combate às mudanças climáticas ao redor do mundo vai para sistemas alimentares e que apenas 1% dessa fatia vai para os produtores de pequeno porte.

“Se apoiarmos a agricultura, podemos tirar milhões de pessoas da pobreza e, ao mesmo tempo, impulsionar o desenvolvimento econômico e avançar no enfrentamento do desafio climático”, disse Tomazoni.

Em setembro do ano passado, durante as agendas do G20 em Mato Grosso, Tomazoni já havia detalhado, ao AgFeed, um pouco mais da estratégia que acredita ser o caminho da agricultura no futuro.

Ele defendeu, na ocasião, o financiamento das atividades de agricultura regenerativa via pagamento de serviços ambientais, mecanismo financeiro que é regulado por lei federal e que visa remunerar os produtores rurais por adotarem métodos produtivos mais sustentáveis e, em última instância, manter florestas em pé.

“O pagamento dos serviços ambientais tem que ser aceito pelos países desenvolvidos e o grande negócio é construir esse mecanismo. Essa estrutura é o que vai entrelaçar a transformação”, afirmou na ocasião.

A sessão com a participação de Tomazoni e Gore foi mediada pela âncora da Bloomberg em Cingapura, Haslinda Amin, e contou também com a participação de Dani Rodrik, professor na Harvard Kennedy School, e Teresa Ribera, vice-presidente da Comissão Europeia.

Ontem, dia 22 de janeiro, a JBS já havia anunciado, também em Davos, a doação de 3 milhões de brincos ao governo do Pará, Estado que detém um dos maiores rebanhos de cabeças de gado do Brasil e pretende fazer o rastreamento individual de sua cadeia até o fim de 2026.

O debate entre Gore e Tomazoni acontece dias após a JBS ser questionada por declarações de seu diretor global de sustentabilidade, Jason Weller.

Ele disse em entrevista à agência Reuters, em reportagem publicada no dia 15 de janeiro, que a ambição da companhia de zerar suas emissões de carbono até 2040 era apenas uma “aspiração” – mesmo após uma campanha publicitária da companhia da família Batista estabelecer o propósito como “compromisso” em 2021.

A JBS respondeu à reportagem dizendo que as suas “ambições climáticas não mudaram. Qualquer afirmação em contrário é completamente falsa.”

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