Como o fim da globalização e o aumento do isolacionismo mudam a visão de mundo do brasileiro 

Logo após tomar posse como presidente dos Estados Unidos nesta segunda-feira, 20, Donald Trump assinou uma série de ordens executivas. As medidas tiveram um caráter isolacionista e de reversão das políticas de seus antecessores — paralisação do banimento da rede social TikTok nos EUA, perdão a invasores do Capitólio de 6 de janeiro e promessa de tirar o país da Organização Mundial da Saúde (OMS). Um decreto, entretanto, interessa aos brasileiros de forma especial.  

Trump assinou uma ordem que acabaria com a cidadania por direito de nascença para crianças nascidas nos Estados Unidos de pais sem status legal. Os Estados Unidos é o país com o maior número de emigrados brasileiros. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, havia 1,9 milhão de brasileiros nos EUA em 2022, sendo que 230 mil brasileiros eram ilegais. A promessa de ter filhos cidadãos americanos é um dos principais atrativos para os migrantes dispostos a submeter à ilegalidade. 

Há controvérsia a respeito da validade do decreto. A 14ª Emenda da Constituição americana afirma: “todas as pessoas nascidas ou naturalizadas nos Estados Unidos, e sujeitas à sua jurisdição, são cidadãos dos Estados Unidos e do estado em que residem”. Alterar a Constituição requer votos de supermaioria no Congresso e ratificação por três quartos dos estados. 

Outros decretos de Trump dificultam a entrada de estrangeiros potencialmente ilegais no país — melhoria da triagem, autorização da mobilização de forças armadas e da Guarda Nacional para garantir a integridade territorial dos EUA, classificação de cartéis do narcotráfico como terroristas. Assim, fica facilitada a ação militar para “repelir formas de invasão, incluindo migração em massa ilegal, tráfico de narcóticos, contrabando e tráfico de pessoas e outras atividades criminosas”.

Quer entre em vigor ou seja derrubada, a postura de Trump sinaliza que a era da globalização foi definitivamente revertida. O processo de isolacionismo, que teve início simbólico em 11 de setembro de 2001, atingiu velocidade máxima: em poucos meses, os EUA prometeram cortar financiamento da Organização das Nações Unidas (ONU), sair da OMS e do Acordo de Paris, e impor mais gastos militares de parceiros da Otan para combate a potenciais inimigos. 

Menos cooperação global significa mudanças em larga escala, como mais inflação, já que as cadeias de produção internacionais reduziam o custo de produtos e serviços. Significam também mudanças em escala “micro” — no nível do indivíduo, com mudanças no estilo de vida dos brasileiros e em suas visões de mundo. 

Em 2024, as exportações brasileiras aos EUA atingiram um recorde (a balança comercial ainda é deficitária para o Brasil, que importa mais do que exporta). Foram U$ 40,33 bilhões exportados — em especial bens oriundos da indústria de transformação como ferro e aço. Se Trump de fato implementar tarifas para frear o comércio internacional que leva dólares ao estrangeiro, o Brasil terá de procurar outro destino para suas exportações. A ásia se destaca como parceiro potencial. 

Desde os anos 1980, os brasileiros buscam prosperidade econômica e ideais culturais americanos com a migração aos EUA, mas o tratamento hostil pode iniciar uma mudança de perspectiva. Se ficar vago o papel americano de abraçar as diferenças em prol da prosperidade, talvez, no futuro, possamos ver uma geração cujo sonho é fazer fortuna na China, por exemplo.

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