AgroGalaxy traz prejuízo bilionário e “spoiler” da venda de carteira de crédito no balanço

O balanço é o retrato da situação financeira de uma empresa em uma determinada data. Assim, os resultados do terceiro trimestre de 2024, divulgados nesta segunda-feira, 20 de janeiro, deveriam trazer uma imagem clara do que era o grupo de distribuição de insumos AgroGalaxy há exatos 112 dias.

Trata-se da primeira “foto” que apresenta a companhia com um carimbo de empresa em recuperação judicial – processo que se iniciou em 18 de setembro, 12 dias antes do encerramento do trimestre.

E, portanto, ninguém esperava que não viesse carregada de tons vermelhos. E também que não exigisse legendas, com explicações para apontar que nem tudo que se vê é exatamente o retrato do AgroGalaxy naquele instante.

Divulgado depois de dois adiamentos, o balanço traz mais do que números estáticos de um momento, resultados influenciados por impactos posteriores gerados pela RJ.

E permite enxergar até eventos futuros. Um dos impactos já considerados pela administração da empresa, por exemplo, é relativo à venda da sua carteira de crédito, uma operação ainda em curso e que deve ser concretizada, segundo afirmou o CEO da companhia, Eron Martins, ao longo desse primeiro trimestre de 2025.

O que está impresso no documento oficializa o registro, para o período, de uma receita líquida de R$ 1,2 bilhão – um recuo de 48,6% quando comparado ao terceiro trimestre de 2023.

Já o prejuízo líquido ajustado aumentou de forma expressiva, de R$ 88,7 milhões para R$ 1,6 bilhão.

O Ebitda ajustado ficou negativo também, em R$ 1,2 bilhão.

Uma longa lista de condicionantes acompanha os resultados. “Os números desse balanço são diferentes de uma apresentação tradicional”, afirmou Martins ao AgFeed.

“Eventualmente, os números postos podem chamar atenção, mas o que é importante aqui é entender que eles são consequência da recuperação judicial. Temos que declarar uma série de coisas por ter solicitado a recuperação judicial. Mas boa parte do que está sendo declarado lá não tem efeito caixa”.

Assim, se a receita apresentada sofreu um impacto de uma empresa que praticamente não vendeu nada nos 12 dias subsequentes ao pedido de RJ, o prejuízo inclui valores que precisam ser declarados, mas que, na prática, serão pagos em longo prazo e negociados, em grande parte, de acordo com as condições previstas no plano de recuperação judicial apresentado no começo de dezembro passado.

É aí que entra o “spoiler” da venda da carteira de crédito. Um dos efeitos da RJ contabilizados – o maior deles, segundo afirmou Luiz Conrado Sundfeld, que assumiu recentemente como CFO do grupo – vem justamente da necessidade de provisionar valores referentes à decisão, mesmo que tomada posteriormente, do impacto da venda de ativos.

No caso, a empresa está negociando uma carteira com valor nominal de cerca de R$ 1,1 bilhão em “créditos não performados em um prazo de 120 dias”.

A venda deve ser feita em diferentes lotes para diversos compradores em condições distintas, mas o AgroGalaxy precisa estimar, para essa provisão, quanto desse valor será perdido em deságio nas negociações.

Esse impacto, de acordo com Sundfeld, é de cerca de R$ 750 milhões, incluindo aí na mesma provisão algumas outras despesas como as multas contratuais pelo fechamento de lojas e descontando também o valor a ser recebido pelo ativo.

Enquanto as contas falam em impacto, Martins tem uma abordagem mais otimista da transação.

“Olhando o copo mais do que meio cheio, o fato de a gente ter uma perspectiva da venda da nossa carteira de contas a receber significa que isso vira caixa e esse caixa traz uma munição adicional para que a gente possa comprar produtos e aumentar a nossa participação no mercado com margem interessante”, destacou.

“Nada mais relevante para uma empresa em RJ do que caixa”, reforçou. Segundo Martins, esses recursos devem começar a entrar ainda no mês de janeiro.

Os impactos negativos da RJ surgem em diferentes linhas do balanço. A margem bruta, por exemplo, foi afetada por um ajuste no custo de mercadoria vendida (CMV), com reconhecimento de multas ou penalidades que a empresa terá de pagar a fornecedores pela interrupção de planos de venda, explicou Sundfeld.

Pesa aqui também a revisão contábil, feita em dezembro, da posição dos estoques.

Neste caso, o impacto seria de R$ 220 milhões. “Isso não é ordinário, isso é extraordinário, coisa que aconteceu uma vez só, e que, quase em sua totalidade, são ajustes já reconhecidos desde o plano de recuperação judicial”, disse o CFO. “E que, por isso, são valores já incluídos dentro do quadro geral de credores”.

Além disso, ele destacou como impacto relevante sobre o lucro líquido – “e subsequente, também sobre o patrimônio da companhia” – o fato de, como empresa em RJ, não poder mais carregar no seu balanço os créditos diferidos de Imposto de Renda, uma vez que empresas em RJ não têm previsão de lucro.

O peso desse item no relatório do trimestre seria de R$ 210 milhões.

Seguindo o plano

O primeiro balanço impactado pela RJ foi apresentado um dia antes do vencimento de um prazo importante para o processo do AgroGalaxy: termina nesta terça-feira, 21 de janeiro, o período em que os credores podem apresentar suas objeções ao plano de recuperação apresentado pela empresa.

Até o momento, segundo Martins, o nível de questionamentos “é menor do que historicamente apresentados em recuperação judicial”.

O CEO do AgroGalaxy pontua que essas objeções não geram interrupção ou agregam complicações ao processo, apenas obrigam a empresa a realizar uma assembleia, algo que já estava no roteiro da companhia.

Martins afirmou que vislumbra poder fazer a assembleia em meados de abril, “em função da evolução positiva que a gente tem hoje no rol de fornecedores”.

“Os maiores interessados em fazer isso o quanto antes somos nós, porque realmente a aprovação do plano pode mudar a tração do negócio”, afirmou, se dizendo confiante com “o sucesso que a gente tem tido na negociação com alguns fornecedores”.

“Hoje as nossas negociações elas estão pautadas, naturalmente, em ajudar a cumprir o plano em termos de vendas, mas muito mais para angariar os votos para aprovação do plano”, prosseguiu.

Martins relatou ao AgFeed que, aos poucos, a empresa vem conseguindo normalizar a rotina de negócios, já com a estrutura adaptada de forma a tornar as despesas e os níveis de estoque condizentes com o que está no plano.

O fator mais relevante neste sentido é a retomada, no começo de 2025, da concessão de crédito aos produtores, com a volta das vendas a prazo.

Para isso, um passo importante foi dado no fim da semana passada, quando a empresa anunciou ter chegado a um acordo com o fundo de investimentos em direitos creditórios (FIDC) Terra Magna e seus investidores para a volta da operação de descontos de recebíveis.

O FIDC, exclusivo para o AgroGalaxy, estava sem realizar descontos desde o pedido de RJ, em setembro. Através dele, a empresa antecipa os recursos que tem a receber de produtores rurais e que estão formalizados em títulos de crédito, como uma CPR (Cédula de Produto Rural).

“Com o advento da reabertura do fundo com a Terra Magna, a gente tem condições de aumentar ainda mais as conversas com fornecedores”, disse Martins.

++ Notícias

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