Sábado é dia de feira

Bruno Faustino

A rua acorda mais cedo, a sacola de lona está pronta, e o sol, preguiçoso, começa a espiar por entre os telhados. A feira é esse grande palco do cotidiano onde a vida se desenrola sem pressa, mas com um vigor que só quem já andou entre as barracas sabe explicar. Lembro das minhas primeiras idas à feira, ainda pequeno, de mãos dadas com meu pai.Ele, com aquele jeito simples de quem conhecia todo mundo, me ensinava os nomes das frutas e verduras. Hoje, quando tenho tempo, ainda mantenho o ritual.A diferença é que agora são as feiras orgânicas que me chamam atenção. Um encontro direto com quem planta, colhe e vende o que a terra nos dá de melhor.Você já reparou como a feira tem o poder de frear o tempo? Enquanto o mundo lá fora corre, ali dentro as relações são construídas com paciência.O feirante pergunta da família, recomenda a melhor receita para aquele tomate maduro demais e, se bobear, ainda te dá um pedaço de manga para provar.E quando vem a chuva de repente, todo mundo se aperta debaixo do toldo da barraca, dividindo espaço e histórias.Recentemente, assisti ao documentário “Feiras Capixabas: Vivências e Histórias”, produzido pelo Incaper. Aquelas imagens capturam a essência do que é a feira: um espaço de resistência, de cultura, de sobrevivência. Ali, agricultores familiares sustentam não só suas casas, mas também a alma de uma cidade inteira.As feiras orgânicas são uma extensão dessa tradição, mas com um toque ainda mais especial. Elas são o reflexo do nosso desejo de comer melhor, de valorizar o que é puro e livre de agrotóxicos. Aos sábados, em bairros de Vitória, Vila Velha, Serra, Colatina, Montanha e tantas outras cidades, as barracas se enchem de cores vibrantes e sabores autênticos.Quem frequenta sabe que ali não se compra só alface ou cenoura. Compra-se história. Compra-se afeto.Já vi muito feirante madrugar na roça para chegar à cidade antes mesmo que o galo cantasse. Carrega nos ombros mais do que caixas de frutas: carrega esperanças.E nós, do lado de cá, ao levar uma cesta cheia de produtos para casa, também levamos um pedaço de um sonho coletivo, de um ciclo que alimenta, conecta e ensina. No próximo sábado, dê um pulo na feira.Passeie entre as barracas, experimente aquele mel fresquinho e leve pra casa um punhado de couve. Mas, acima de tudo, leve o sentimento de pertencimento. Porque a feira é esse lugar onde o passado, o presente e o futuro se encontram. E que bom que ainda existem feiras. Porque sem elas, caro leitor, a cidade perderia um pouco do seu sabor.

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