Incêndios na Califórnia expõem desafios climáticos com retorno de Trump

Quase 48 horas após o primeiro foco ter sido registrado pelas autoridades da Califórnia, os incêndios florestais que estão devastando cinco áreas da cidade de Los Angeles trouxeram à tona não apenas a fragilidade do Estado mais rico dos Estados Unidos, mas também o impacto de políticas climáticas negligentes que tendem a se intensificar com a volta de Donald Trump à Casa Branca.

Ao menos cinco pessoas morreram em decorrência do agravamento das queimadas, que já consumiram uma área de aproximadamente 11 mil hectares (o equivalente a cerca de 15 mil campos de futebol). O fenômeno climático forçou a evacuação de 140 mil pessoas e chegou a motivar uma ordem de retirada na região da Calçada da Fama e do Hollywood Boulevard, pontos icônicos da cidade.

Um balanço parcial do departamento dos bombeiros de Los Angeles é de que 1,5 mil estruturas tenham sido destruídas pelo fogo nos primeiros dois dias de incêndio. Há a informação também de que 350 mil pessoas estão sem energia no estado, em decorrência da crise.

Todos os principais eventos na cidade, que vive o início da temporada de prêmios do cinema, foram adiados na noite de terça, como uma sessão de cinema do filme “Ainda Estou Aqui” que teria ao final uma conversa entre a atriz Fernanda Torres, o diretor Walter Salles e o diretor mexicano Guillermo del Toro.

O presidente Joe Biden, que está em Los Angeles desde segunda (6), foi forçado a cancelar uma viagem à Itália, onde faria uma visita ao papa Francisco, sua última viagem internacional como presidente do país.

O estado da Califórnia é o mais rico dos Estados Unidos e em 2024 somou 4,080 trilhões de dólares (R$24,98 trilhões) do Produto Interno Bruto (PIB), economia comparável a da Alemanha e da França – os dois países mais ricos da União Europeia. 

As chamas ocorrem com maior intensidade em cinco regiões: Palisades, Sunset, Eaton, Hurst e Lidia.

Os piores cenários ainda são em dois focos de incêndio opostos, a leste e oeste da cidade de Los Angeles — embora as autoridades considerem três dos cinco focos fora de controle. Na costa do Pacífico, o incêndio que começou nas imediações do luxuoso bairro de Palisades varreu uma área extensa e continua sem sinal de controle. As ordens de retirada e o caos provocado pelo combate às chamas também criou efeitos indiretos.

Segundo autoridades locais, o incêndio em Pacific Palisades já é o pior da história da cidade de Los Angeles e pode se tornar o mais destrutivo da história do Estado da Califórnia. Ele foi o primeiro a se alastrar na região, na terça.

Outros incêndios nesta região já causaram mais mortes e queimaram áreas maiores. Mas a destruição de casas e prédios que está acontecendo agora é histórica.

A vitória de Donald Trump devolve à Casa Branca um negacionista da mudança climática, disposto a desmantelar as políticas ambientalistas de seu antecessor e colocar em perigo os esforços mundiais para frear o aquecimento global. Durante sua campanha, o republicano reforçou seu slogan “drill, baby, drill” (em português, “perfure, baby, perfure”), destacando sua intenção de priorizar a exploração de petróleo e outras fontes de energia fóssil, mesmo diante das evidências científicas sobre o impacto dessas práticas no clima.

Trump culpa peixe três polegadas, governador e Biden

O presidente eleito Donald Trump  afirmou nesta quarta (8) que a falta de água para combater os incêndios em Los Angeles é resultado de uma política ambiental para “proteger um peixinho minúsculo”, defendida pelo governador da Califórnia, o democrata Gavin Newsom.

“É muito triste porque tenho tentado fazer com que Gavin Newsom permita que a água chegue. Tem muita água lá em cima. Eles enviaram essa água para o Pacífico porque estão tentando proteger um peixinho minúsculo, que está em outras áreas, a propósito. É chamado de smelt. E pelo bem do smelt, eles não têm água”, disse Trump, ao lado de líderes republicanos no Capitólio dos Estados Unidos. 

Enquanto Trump intensificava suas bravatas políticas, o presidente Joe Biden e o governador Gavin Newsom destacaram os esforços conjuntos para combater os incêndios e ajudar as vítimas. Biden aprovou uma declaração de grande desastre para a Califórnia, permitindo acesso imediato a fundos federais para a recuperação. Além disso, o governo federal destinou em dezembro US$ 29 bilhões ao Fundo de Alívio de Desastres da FEMA, uma agência federal que atua na gestão de emergências no país.

Newsom, por sua vez, reafirmou que a prioridade é salvar vidas e apoiar os bombeiros que atuam nas linhas de frente, em vez de se envolver em disputas políticas. “O governador está focado em proteger as pessoas, não em fazer politicagem”, declarou sua assessoria.

A vitória eleitoral de Donald Trump em novembro de 2024 devolve à Casa Branca um negacionista da mudança climática, disposto a desmantelar as políticas ambientalistas de seu antecessor e colocar em perigo os esforços mundiais para frear o aquecimento global. Durante sua campanha, o republicano reforçou seu slogan “drill, baby, drill” (em português, “perfure, baby, perfure”), destacando sua intenção de priorizar a exploração de petróleo e outras fontes de energia fóssil, mesmo diante das evidências científicas sobre o impacto dessas práticas no clima.

Crise climática e ventos de Santa Ana

O governador da Califórnia, Gavin Newsom, destacou que os incêndios no estado já não podem ser considerados eventos sazonais. “A Califórnia não enfrenta mais uma temporada de incêndios, mas sim um ano inteiro de chamas”, afirmou.

Newson enfatizou que a mudança no padrão climático do estado, onde condições como secas prolongadas, calor extremo e ventos intensos têm tornado os incêndios florestais uma ameaça constante ao longo de todo o ano, e não apenas durante os meses historicamente mais secos, de maio a outubro.

O motivo pelo qual os bombeiros não conseguem conter os incêndios são os chamados ventos de Santa Ana, que têm alimentado e espalhado as chamas.

São ventos secos que removem a umidade da vegetação e facilitam o início do fogo, de acordo com Simon King, apresentador de meteorologia da BBC. Uma vez que o fogo começa, os ventos fazem com que se espalhe facilmente.

Embora esses ventos sejam um fenômeno natural característico do sul da Califórnia, o aquecimento global cria um ambiente de fundo mais propício para que eles intensifiquem os incêndios.

De acordo com especialistas, o aquecimento global aumenta a frequência e a intensidade dos “dias de clima para incêndios” (fire weather days), com baixa umidade, temperaturas elevadas e vegetação extremamente seca. 

No caso recente, os ventos Santa Ana — que naturalmente secam ainda mais o solo e aceleram as chamas — têm sido potencializados por meses de seca após um verão excepcionalmente quente. Essas condições extremas tornam os incêndios mais rápidos, intensos e difíceis de conter, especialmente em áreas com topografia íngreme e vegetação inflamável, como as encontradas no sul da Califórnia.

Além disso, esses ventos estão agora deslocando os focos de incêndio para áreas urbanas e densamente povoadas, aumentando os riscos para as populações e dificultando as estratégias de mitigação. Assim, embora os ventos em si não sejam causados pelo aquecimento global, o contexto mais quente e seco amplifica seus efeitos devastadores.

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