PL perde deputados por divergências com bolsonarismo

O Partido Liberal (PL) enfrentou uma onda de abandonos em 2024, com a saída de pelo menos quatro deputados federais, reflexo de uma crescente pressão interna para alinhar a legenda à agenda do bolsonarismo. A pressão, que se intensificou após a filiação de Jair Bolsonaro e seus aliados à sigla em novembro de 2021, tem gerado divisões internas e acirrado as relações entre parlamentares mais moderados e aqueles alinhados ao extremismo de direita.

Entre os deputados que optaram por deixar o partido estão Samuel Viana, Yuri do Paredão, Luciano Vieira e Junior Mano. A maioria desses parlamentares tem apontado o fortalecimento de uma ala radical dentro da legenda como o principal fator de sua saída. As informações foram divulgadas pelo jornal Folha de S. Paulo

De acordo com Samuel Viana, que se desfiliou no final de 2023, a pressão da “direita raiz” do PL tornou insustentável sua permanência. “Era uma imposição para que votássemos sempre contra a esquerda, sem espaço para diferentes pontos de vista. Percebi que, para manter meu perfil moderado, precisaria sair”, afirmou.

Deputado Federal Samuel Viana (Republicanos -MG) | Foto: Divulgação

A crítica central dos ex-integrantes é a radicalização do partido desde a chegada de Bolsonaro, o que, segundo eles, tem provocado uma intolerância crescente em relação a outras correntes de pensamento. Viana, por exemplo, descreve o ambiente como de “submissão”, no qual quem não se alinha ao bolsonarismo é rapidamente rotulado como “comunista”. A divisão interna é clara: enquanto uma maioria segue a agenda conservadora e bolsonarista, uma minoria de cerca de 20 deputados ainda defende um posicionamento mais moderado.

O PL, que elegeu 99 deputados federais nas eleições de 2022, atualmente conta com 94 membros, sendo que as baixas foram causadas tanto pela saída de parlamentares quanto pelo falecimento de Amália Barros, vice-presidente do PL Mulher. A mais recente dessas saídas foi a de Junior Mano, expulso do partido após fazer campanha para o prefeito de Fortaleza, Evandro Leitão (PT), que concorria contra o candidato bolsonarista André Fernandes.

Júnior Mano (PSB) | Foto: Divulgação

Mano usou suas redes sociais para criticar o que considerou uma decisão imposta por Bolsonaro. Em um post, afirmou que Valdemar Costa Neto, presidente do PL, foi “obrigado” a expulsá-lo sob a pressão do ex-presidente. “Todos sabem que o ex-presidente Bolsonaro está no comando do partido e foi ele quem solicitou minha expulsão”, escreveu Mano.

Já Luciano Vieira, que também deixou o partido, relatou uma saída amigável, acordada por conta de sua atuação nas eleições municipais do Rio de Janeiro, onde apoiou a candidatura de seu irmão, Leo Vieira, à prefeitura de São João de Meriti, derrotando o candidato do PL.

Luciano Vieira (Republicanos – RJ) | Foto: Divulgação

Outros deputados, como Yuri do Paredão, também justificaram suas saídas com base em divergências políticas internas. “Defendo o diálogo, o respeito às instituições e acredito no governo Lula”, afirmou, destacando que sua decisão foi mais ligada à busca por um ambiente político mais plural, longe das imposições radicais.

Yuri do Paredão (MDB-CE) | Foto: Divulgação

Enquanto isso, o PL se defende. Em nota oficial, a sigla minimizou as saídas, afirmando que os parlamentares que deixaram o partido o fizeram por “razões regionais ou pessoais”, e não por discordâncias com a agenda bolsonarista.

O partido também se mostrou otimista em relação ao futuro, apontando que muitos deputados já manifestaram interesse em ingressar no PL na próxima janela partidária, atraídos pela vinculação com o bolsonarismo.

Em termos históricos, o PL, que tem raízes na extinta Arena, partido de apoio ao regime militar, passou por diversas transformações políticas. Ao longo dos anos, se alinhou ora com governos de direita, ora com os de esquerda, e desde a filiação de Bolsonaro, em 2021, a sigla viu sua influência crescer exponencialmente, tornando-se uma das maiores forças políticas do país.

No entanto, as recentes saídas e o fortalecimento da ala mais radical do PL podem marcar uma nova fase de tensões internas, que, ao que parece, continuarão a moldar o partido nos próximos anos. A dinâmica de poder dentro da sigla, refletindo o embate entre diferentes facções, pode ter implicações significativas nas eleições futuras e nas alianças políticas do país.

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