Corteva busca 35% da soja transgênica no Brasil. E diz que “pior já passou”

Uma das gigantes globais em defensivos e sementes, a Corteva Agriscience, está cada vez mais de olho nas oportunidades no Brasil, que hoje já é o segundo maior mercado para a empresa.

Entre os focos prioritários estão o segmento de biológicos, onde lançou uma inovação recente com potencial para crescer rapidamente, e a biotecnologia, por meio da soja transgênica Enlist, lançada em 2021, mas até hoje com participação pequena entre os agricultores brasileiros.

“Até o final da década é factível pensar que nós vamos ter uma participação de 35% desse mercado brasileiro (de soja transgênica)”, disse o diretor de marketing da Corteva para Brasil e Paraguai, Felipe Daltro, em entrevista ao AgFeed.

O CEO global da Corteva, Chuck Magro, já havia sinalizado em entrevista à agência Bloomberg no início de dezembro que não via razão para a empresa não ter “entre 20% e 30%” de market share no Brasil com a Enlist E3.

O diretor brasileiro explica que a soja Enlist 3 vem alcançando excelente penetração nos Estados Unidos. A semente geneticamente modificada oferece tolerância a três herbicidas (glifosato, glufosinato de amônio e novo 2,4-D) e também contém proteção contra lagartas.

“É um mercado onde essa biotecnologia se implementou com muito sucesso, ela é até melhor que as expectativas que a gente tinha originalmente. Se você olha sob essa ótica, o Brasil em termos de hectares plantados de soja é um mercado ainda maior que o americano. Então é uma tendência natural que uma empresa como a Corteva procure desenvolver esse mercado”, afirmou.

Segundo Daltro, uma das variedades já bateu 1 milhão de sacos de sementes comercializadas.  “É um marco relevante e vai começar a ser acelerado esse processo de agora em diante”.

A Corteva não revela o market share exato que possui hoje com a soja Enlist, mas o executivo admite que é “uma participação pequena, de 1 dígito”.

Perguntado sobre qual a estratégia para chegar aos 35%, Felipe Daltro respondeu: “a tecnologia por si só vem para resolver uma dor do agricultor de manejo e as boas variedades tendo boa genética que a gente vem melhorando ano após ano, vão aliar isso”.

O plano é licenciar a tecnologia para outros players relevantes do mercado brasileiro de sementes, parceiros comerciais, “que vão colocar na genética deles de forma que isso se alastre rápido e atinja o produtor em mais larga escala”.

Inovações a caminho, com aposta em biológicos

O lema na Corteva é reforçar a imagem de “empresa mais inovadora do mercado”, algo que o diretor de marketing diz ter ouvido ao longo da carreira, especialmente logo após a fusão entre Dow Agrosciences e Dupont, que deu origem a Corteva.

No mês de dezembro a empresa promoveu um evento com foco em inovação, em Brasilia, reunindo investidores, pesquisadores, lideranças de cooperativas, distribuidores e produtores rurais.  A proposta é uma inovação “sustentável integrada”, diz o diretor, “no horizonte de 10 anos ou mais”.

“Cada vez mais nós vamos precisar pôr em prática o híbrido, a biotecnologia, o bioinsumo, o defensivo químico, tudo isso junto para tirar o melhor proveito da forma mais sustentável possível”.

Como parte desta estratégia, estão iniciativas como a participação no Cubo Itaú, um hub de startups no Brasil e o programa Corteva Catalyst, que está aportando recursos em agtechs, globalmente. “A gente quer criar um ecossistema onde a palavra mais importante aí é colaboração, é realmente inovar de ponta a ponta”.

Um dos pilares prioritários é o segmento de biológicos, para controle de pragas e doenças e também para a melhoria da eficiência da planta, como bioestimulantes e nutricionais, destacou Daltro.

“Essa frente já utiliza muito de edição genética, como falamos no evento, e de novas biotecnologias que vão permitir que as culturas que estão instaladas aqui no Brasil atinjam cada vez mais seu teto produtivo sem sofrer interferência das pragas que se adaptam ao longo do tempo ou de plantas invasoras que fiquem resistentes a um ou outro modo de ação herbicida e precisem de uma nova solução”, explicou.

A aposta mais recente da Corteva em biológicos é um produto lançado em 2023 que promete ter ampla adoção no campo. Há décadas o Brasil reduziu a necessidade de fertilizante nitrogenado na soja em função do desenvolvimento dos inoculantes, que permitiram a fixação biológica de nitrogênio.

O produto da Corteva, chamado Utrisha N, também viabiliza a fixação do nitrogênio, mas via foliar e com possibilidade de fazer isso na cultura do milho, uma lavoura altamente dependente de ureia.

Foram 1,7 mil testes em milho desde 2022 com o produto. Segundo a Corteva, houve um acréscimo de 7 sacas por hectare na produtividade do milho e 2,9 sacas na soja.

“Tem dado resultados espetaculares em larguíssima escala no Brasil. Já está aí para milho, para soja, tem pendente a regulamentação também a expansão para cana,  trigo e para algodão”, afirmou o diretor.

Outros lançamentos da Corteva ainda dependem da aprovação de registros, mas o diretor de marketing adiantou ao AgFeed que a empresa pretende lançar, exemplo, um novo híbrido de milho para a região Sul do Brasil. O diferencial seria uma maior eficácia no manejo do Amaranthus e ele também tem a tecnologia Enlist.

Também estão no pipeline para 2025 ou 2026 dois novos fungicidas e um novo nematicida, de aplicação foliar.

Além do Utrisha, nos biológicos, a expectativa é trazer mais novos produtos, inclusive baseados na edição genética, mas todos dependem de aprovações.

Daltro destacou que, na visão da Corteva, os biológicos vão representar pelo menos 30% do mercado de defensivos agrícolas em 2035. Mas pondera que a estratégia da empresa é trazer “inovações reais” e não apenas ganhar market share oferecendo biológicos que centenas de empresas já comercializam.

“Pior já passou”

Na visão da Corteva, realmente 2024 foi o ano de ajuste, depois de “surpresas e dificuldades” em 2023.

Porém, a expectativa de uma boa safra, com clima mais favorável, segundo Daltro, já traz uma expectativa mais otimista.

“Atrasou um pouquinho, mas depois choveu bem, deu boa janela de plantio para soja, isso remete a possivelmente uma projeção boa de safrinha de milho, falando especificamente dos dois cultivos mais importantes”, afirmou.

Ele lembrou ainda dos níveis de preço historicamente altos para açúcar, etanol, citricultura e café. “No algodão está desafiador lá fora, mas a própria taxa de câmbio tem ajudado a dar boa rentabilidade aqui em ambiente nacional”.

“O agro brasileiro é muito resiliente, é muito forte, e quando a gente entra agora em 24 para 25, tem muitos desses capítulos muito mais positivos. Eu realmente entendo que por isso tudo que eu mencionei, o pior já passou”, reforçou o executivo.

Ele admite que os desafios que o agricultor passa nesse momento estão relacionados à crédito, e ao fato de muitos terem se alavancado em anos anteriores com a compra de itens como máquinas ou terras.

“Obviamente toma um tempo até que a gente ganhe tração, como já foi no passado, em bons anos. Mas não acredito de forma alguma em ajustes significativos ou em crise. Nós estamos diante de um momento muito bom para demonstrar o potencial agrícola do Brasil”.

Daltro afirmou que o ciclo começa a virar em 2025, mas ainda será sensível ao cenário de crédito e investimento.

“Nesse ambiente, não tem uma forma melhor para o agricultor, se ele quiser ser bem-sucedido, com preço de commodity baixa, do que produzir mais por hectare. E produzir mais por hectare é o coração da Corteva”.

Quanto as recuperações judiciais, o diretor da Corteva diz que o fenômeno atingiu tanto nas revendas quanto no agricultor, o universo de pequenos, médios, grandes, “e não necessariamente é uma regra e deve se colocar todo mundo na mesma vala comum”.  Destacou que no evento promovido pela Corteva, em Brasilia, por exemplo, estavam representados produtores, revendas e cooperativas que fizeram uma boa gestão. Segundo Daltro, não há ajustes na estratégia da empresa no acesso aos clientes em função do cenário mais adverso.

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