Entenda as medidas e os resultados da intervenção na Saúde de Goiânia

A pedido do Ministério Público de Goiás (MP-GO), o Tribunal de Justiça do estado de Goiás (TJ-GO) autorizou a intervenção do governo estadual na gestão do sistema municipal de saúde de Goiânia. O governo do estado publicou o decreto no Diário Oficial no dia dez de dezembro, ratificando a nomeação do odontólogo Márcio de Paula Leite como o interventor da Saúde municipal.

 A intervenção estadual se deu devido a problemas estruturais, administrativos e financeiros no sistema de saúde municipal. A decisão foi tomada em 9 de dezembro de 2024, com o objetivo de reorganizar o sistema de saúde da capital até o final do ano.

A crise na saúde pública de Goiânia, que culminou na prisão do secretário de saúde, Wilson Pollara, ganhou repercussão nacional, inclusive na grande imprensa. A situação se agravou nas duas últimas semanas de novembro, com a morte de seis pacientes internados nas chamadas salas vermelhas — áreas destinadas ao atendimento emergencial de casos graves — enquanto aguardavam vagas em leitos de UTI. Entre as vítimas, três estavam internadas na UPA do Residencial Itaipu à espera de transferência

Uma técnica de enfermagem da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Itaipu, onde morreram três pacientes, revelou ao Jornal Opção na ocasião: “Aqui faltam insumos, faltam medicamentos, faltam antibióticos, falta até a dieta para pacientes usando sonda. Aqui morrem pacientes toda semana por falta de leitos em UTI. Quem dera se fosse somente essas mortes noticiadas pela imprensa”.

A crise se intensificou com a prisão do então secretário municipal de Saúde, Wilson Pollara, e de outros membros da equipe da pasta, no âmbito da Operação Comorbidade. Essa operação investigou supostos pagamentos irregulares em contratos administrativos e associação criminosa, evidenciando falhas significativas na gestão da saúde municipal.

Além disso, a saída de dois secretários municipais de Saúde em curto espaço de tempo indicou instabilidade na administração da pasta. Cynara Mathias Costa assumiu o cargo em 27 de novembro de 2024, mas pediu demissão uma semana depois, sendo substituída por Pedro Guilherme Gioia de Moraes em 4 de dezembro de 2024 que pediu demissão menos de duas semanas depois, após o anúncio da intervenção.

Ademais, a crise afetou drasticamente as maternidades municipais geridas pela Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (Fundahc/UFG), por falta de repasses financeiros da prefeitura de Goiânia. Por esse motivo, o atendimento nas maternidades se restringirá a apenas urgências e emergências.

A situação calamitosa afetou também os responsáveis pela limpeza das unidades de saúde. A Loc Service Comércio e Serviços LTDA, empresa presta serviços de limpeza e manutenção contratada pela Prefeitura, paralisou as atividades por falta de pagamentos.

Segundo o secretário Estadual de Saúde, Rasível Santos, a crise foi causada por “falta de credibilidade”. “Quando começamos a ter esses problemas acabamos inflacionando o mercado e o leito acaba ficando mais caro. Às vezes, o hospital acaba tendo mais dificuldade para gerar leitos e, outro problema que agrava, é a falta de medicamentos na atenção primária. Isso faz com que a doença se agrave e aumente o tempo de permanência de pacientes nas UTI’s”, explicou.

Secretário de saúde de Goiás, Rasivel dos Reis | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

“Vamos sanar esses problemas de credibilidade com a ajuda do Governo de Goiás. O governador Ronaldo Caiado tem a credibilidade de nunca atrasar pagamentos e não fazer nenhum compromisso que o governo não possa cumprir. Traremos essa credibilidade para a Saúde de Goiânia junto ao próximo prefeito”, continuou.

Por fim, a intervenção na saúde de Goiânia se consolidou como uma resposta às falhas da gestão municipal e à urgência em garantir o acesso a serviços de saúde adequados. A medida visa não apenas a recuperação da qualidade de atendimento, mas também a restauração da confiança dos cidadãos no sistema público de saúde.

A ação estatal também reforçou a necessidade de uma gestão integrada entre os níveis municipal, estadual e federal, destacando a importância de um planejamento conjunto e da responsabilidade compartilhada na manutenção da saúde pública. Esses eventos culminaram na decisão judicial que autorizou a intervenção estadual, visando restaurar a normalidade e a eficiência no sistema de saúde de Goiânia.

Resultado das ações nas unidades de saúde

UPA do Jardim Itaipu | Foto: Cilas Gontijo / Jornal Opção

Após 19 dias de intervenção, o Jornal Opção visitou algumas unidades de saúde e conversou com médicos, profissionais de enfermagem e pessoal da limpeza, com o objetivo de relatar as melhorias ocorridas nesse período sob a intervenção do governo de Goiás.

Na UPA do Jardim Itaipu, uma técnica de enfermagem que preferiu não se identificar afirmou que a situação em relação aos medicamentos melhorou, mas ainda não é ideal. “Antes, nem dipirona tínhamos; hoje, além da dipirona, temos antibióticos, que são essenciais para a manutenção da vida dos pacientes na sala vermelha. Contudo, a situação ainda é de urgência”, observou.

Outro ponto importante destacado pela profissional foi a oferta de vagas em UTIs. Ela frisou que as vagas estão sendo disponibilizadas com mais agilidade. “Antes, pacientes esperavam mais de 20 dias para conseguir uma vaga; agora, no máximo dois dias”, pontuou.

Um médico ouvido pela reportagem na mesma unidade relatou que ainda faltam muitos medicamentos necessários para um atendimento de qualidade, mas reconheceu que a situação atual está melhor do que antes da intervenção. “Antes, os parentes precisavam comprar os antibióticos; agora, isso não é mais necessário”, afirmou. No entanto, ele alertou que a próxima gestão ainda tem muito a fazer para que o município ofereça saúde de qualidade à população.

De forma semelhante, na UPA do Jardim Novo Mundo, os relatos são parecidos. Uma enfermeira e uma médica concordaram em falar com a reportagem, mas sem revelar suas identidades ou imagens. A enfermeira destacou que, comparado ao cenário anterior à intervenção, a situação melhorou, mas ainda está longe do ideal. “Os medicamentos, como antibióticos, estão chegando, e isso é importante, mas a reposição ainda demora. Às vezes, fazemos o pedido e a reposição leva até um dia, o que prejudica a saúde dos pacientes, já que são remédios essenciais”, explicou.

A médica enfatizou que, no caso de pacientes que precisam de vagas em UTIs, a intervenção trouxe bons resultados, pois as vagas estão sendo disponibilizadas com maior frequência. “Hoje não temos nenhum paciente na sala vermelha; o último foi encaminhado ainda hoje (quarta-feira) para um hospital que disponibilizou a vaga”, disse. Contudo, ela advertiu que ainda há muito a ser melhorado.

A reportagem também visitou o Cais Cândida de Morais, na região Noroeste de Goiânia, onde ouviu relatos semelhantes. Uma enfermeira afirmou que, embora os medicamentos estejam chegando, a quantidade ainda não supre toda a demanda. “Graças a Deus, já melhorou muito, mas ainda faltam alguns medicamentos”, relatou.

A profissional reconheceu, porém, que o interventor precisa de mais tempo para organizar uma situação que estava fora de controle. “Acredito que precisamos dar mais tempo para o interventor trabalhar. Tenho certeza de que até o final do ano as coisas vão se normalizar”, afirmou.

Um técnico de enfermagem que trabalha na unidade há 17 anos disse que, durante esse período, presenciou muitas crises na saúde, mas nenhuma tão grave quanto a atual. Ele também considerou esta a pior gestão da saúde na capital. “Já passei por várias gestões nesses 17 anos, mas esta, com certeza, foi a pior”, destacou.

O profissional reforçou que a decisão de intervenção foi acertada e deveria ter ocorrido antes. “Essa foi a melhor decisão dos últimos quatro anos. Se o governador tivesse feito isso antes, muitas vidas teriam sido salvas”, afirmou. Ele relatou que, apenas nos últimos 10 dias, cerca de quatro pacientes que precisavam de UTI tiveram suas vidas preservadas graças à intervenção. “Posso afirmar que essa intervenção já está salvando vidas”, disse.

Novo desfibrilador e medicamentos na UPA do Jardim Itaipú | Foto: Cilas Gontijo / Jornal Opção

Em todas as unidades visitadas pela reportagem, foi constatado que elas estão bem cuidadas e com a limpeza em dia. No entanto, alguns funcionários da Loc Service informaram que a capacidade operacional da empresa está reduzida, já que muitos trabalhadores se desligaram devido à falta de pagamentos. “O quadro de funcionários está reduzido, mas a empresa está contratando diaristas para evitar que as unidades de saúde fiquem sujas”, contou um funcionário.

Procurada pela reportagem, a Loc Service, por meio de sua coordenadora operacional, Aldeniza Siqueira Rosa, limitou-se a informar que todas as unidades estão sendo atendidas. “Voltamos a atender normalmente todas as unidades, conforme os cronogramas e rotinas normais. Estamos atendendo todas as áreas, tanto críticas quanto não críticas, conforme o manual da Anvisa”, afirmou.

Secretário de Saúde de Goiás destaca medidas para enfrentar crise sanitária

Nesta sexta-feira, 21, o gabinete de crise liderado pelo Secretário de Saúde do Estado de Goiás, Rasível dos Reis Santos Júnior, mostrou para a imprensa um balanço dos trabalhos desde a data de instauração dia 02 de dezembro e da intervenção total do estado na saúde de Goiânia que começou dia 09 de dezembro.

Na oportunidade, o secretário explicou as ações adotadas pela gestão estadual para enfrentar a crise no sistema de saúde. Segundo ele, foi necessária a implantação de um gabinete de crise devido à gravidade da situação enfrentada nas unidades de saúde.

“Foi necessária a intervenção porque precisávamos de respostas rápidas para problemas que se acumulavam, como falta de medicações, dificuldades no pré-hospitalar, escassez de combustível para ambulâncias e deficiências no quadro de recursos humanos”, destacou o secretário.

Entre os motivos que levaram à criação do gabinete de crise, Rasível ressaltou o número de óbitos registrados, principalmente de pacientes que aguardavam vagas em unidades de terapia intensiva (UTI). “Tivemos três óbitos antes da abertura do gabinete e dois óbitos imediatamente após a entrada na UTI. Não podemos afirmar com certeza que essas mortes foram causadas pela demora, mas não podemos correr esse risco. Por isso, criamos o gabinete para agilizar transferências e evitar novas perdas”, explicou.

Objetivos do gabinete de crise

O gabinete foi criado para enfrentar a crise de forma estruturada e rápida. Entre os objetivos principais, o secretário destacou:

1. Reduzir as mortes de pacientes que aguardam vagas na UTI;

2. Evitar a judicialização, que muitas vezes indica atraso na resposta aos problemas;

3. Garantir que nenhum paciente espere mais de 24 horas para ser internado em terapia intensiva.

“Se conseguimos reduzir o tempo de espera, conseguimos diminuir as mortes e as ações judiciais. Além disso, observamos uma queda significativa na taxa de mortalidade em unidades como as UPAs, CAIS e CIAMES”, afirmou Rasível.

O secretário enfatizou que, nesse período, foram captados no Hospital Ruy Azeredo mais 20 leitos para adultos; no Hospital das Clínicas, mais 16 leitos, sendo 10 para atender à pediatria e 6 para adultos; e no Hospital de Águas Lindas foram disponibilizados mais 40 leitos – 20 para adultos, 10 pediátricos e 10 neonatais.

Resultados obtidos

Como informa o secretário, desde a implementação do gabinete de crise, já foram alcançados avanços importantes, incluindo:

• Redução no tempo de espera por vagas de internação, com o número de pacientes aguardando mais de 24 horas caindo de 24 para 5.

• Diminuição do número total de pacientes aguardando internação em enfermarias, que passou de 174 para menos de 60.

• Autorização de 1.336 internações em regulações municipais e estaduais.

Além disso, o Estado também conseguiu reativar ambulâncias que estavam paradas por falta de combustível ou manutenção. “Hoje temos 17 viaturas funcionando, algo que não acontecia há mais de sete anos”, afirmou o secretário.

Parcerias e ações coletivas

O secretário destacou a colaboração entre diferentes órgãos e entidades. “Contamos com a participação efetiva do Ministério da Saúde, do Ministério Público e do Tribunal de Contas para acelerar processos de compra emergencial”, disse Rasível.

Em uma medida pioneira, foi autorizado um contrato verbal e a aquisição de materiais mediante emissão de nota fiscal. “Essa decisão permitiu que retomássemos o fornecimento de combustíveis e insumos essenciais”, acrescentou.

Foco na agilidade

Rasível ressaltou que a intervenção estadual, solicitada pelo prefeito eleito Sandro Mabel, continuará apenas até o dia 31 de dezembro. A partir de 1º de janeiro, o prefeito assumirá definitivamente a administração da capital.

No entanto, Rasível destacou que o gabinete de crise poderá continuar atuando. Mesmo que a situação de crise seja resolvida, a equipe de trabalho seguirá auxiliando a nova gestão de Goiânia. “Não vamos perder essa dinâmica que trouxe tantos benefícios para a população. Nosso objetivo é manter essa integração entre o estado e o município”, afirmou.

Rasível também enfatizou a importância de ações rápidas para lidar com a crise. “Se temos que errar, é melhor errar rápido e corrigir imediatamente do que levar dias para tomar uma decisão. A omissão é o pior tipo de escolha em um momento de crise”, disse ele.

Por fim, o secretário elogiou o trabalho coletivo das equipes envolvidas. “Estamos lidando com vidas. O empenho de cada um aqui é fundamental para que possamos superar essa crise e garantir que nenhum goiano fique sem atendimento”, concluiu.

Sandro Mabel em entrevista ao Jornal Opção | Foto: Guilherme Alves/ Jornal Opção

Mabel destaca medidas emergenciais para enfrentar crise na saúde e projeta melhorias para Goiânia

 O prefeito eleito Sandro Mabel (UB) destacou as ações adotadas para conter a crise no sistema de saúde de Goiânia e assegurou que os resultados positivos já começam a ser sentidos. “Tomamos as providências na hora certa. Diante das primeiras mortes por falta de UTI, reunimos nossa equipe e, com o apoio do governador e dos secretários de saúde, conseguimos negociar leitos, medicamentos e reorganizar o sistema”, afirmou.

O prefeito detalhou que, em poucos dias, a cidade passou de uma situação crítica para um cenário mais controlado. “Conseguimos abrir 20 novos leitos no Hospital Rui Azevedo, além de contar com o suporte da Santa Casa e do Hospital das Clínicas. As ambulâncias do SAMU, que estavam praticamente paradas, voltaram a operar. Nenhum paciente que precisou de UTI ficará desassistido”, pontuou.

Medidas para evitar nova crise

Mabel também anunciou um plano abrangente para evitar que situações semelhantes voltem a ocorrer. Entre as iniciativas estão a criação de uma central de ambulâncias integrada ao Corpo de Bombeiros e aos SAMUs dos municípios da Região Metropolitana da capital e a instalação de centrais de macas nos hospitais. “Quando uma ambulância chega, o paciente é imediatamente transferido para uma nova maca, agilizando o atendimento e evitando que o veículo fique parado”, explicou.

Outro ponto destacado foi o uso de tecnologia para otimizar a alocação de ambulâncias. “Mapeamos, com ajuda do Google, os locais com maior incidência de acidentes e chamadas de emergência. Isso nos permite posicionar as ambulâncias estrategicamente e aumentar sua eficiência”, ressaltou.

Enfrentamento da dengue e gestão financeira

O prefeito alertou para um possível aumento de casos de dengue na cidade e anunciou medidas preventivas. “Vamos intensificar a limpeza de terrenos baldios removendo lixos que servem como criadouros do mosquito”, garantiu. Sobre as dificuldades financeiras, ele revelou que recursos adicionais estão a caminho. “Conseguimos liberar emendas em Brasília e aguardamos cerca de R$ 80 milhões, além da receita do IPTU a partir de fevereiro. Com isso, garantimos que não faltarão remédios, combustível para ambulâncias e outros itens essenciais”.

Custos elevados e planos de otimização

Mabel também criticou os altos custos de alguns serviços de saúde. “Fiquei impressionado com consultas custando R$ 500 e partos chegando a R$ 30 mil. Isso é resultado de falta de gestão. Estamos revisando esses números e buscando soluções mais eficientes”, afirmou. Ele citou, como exemplo, a subutilização das salas de cirurgia da Maternidade Dona Iris, com apenas 17% de ocupação em alguns meses.

O prefeito reforçou o compromisso com uma gestão eficiente. “Vamos trabalhar para reduzir custos sem comprometer a qualidade do atendimento. Nosso objetivo é cumprir os 15% de investimento obrigatório na saúde, buscando recursos em Brasília e no Estado de Goiás para melhorar os serviços”.

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