Startup desenvolve aeronave com ‘asas integradas’ para reduzir emissão de CO2

Uma revolução pode estar prestes a decolar nos céus da aviação comercial. A startup americana JetZero anunciou avanços promissores no desenvolvimento de uma aeronave com design de “asa integrada”, inspirada em bombardeiros furtivos utilizados pelas Forças Armadas. A empresa acredita que seu projeto não apenas transformará o setor, como também contribuirá para a meta da indústria de aviação: atingir emissões líquidas zero de carbono até 2050. 

O design inovador da JetZero surge em um momento em que a aviação enfrenta crescente pressão por regulamentações ambientais mais rígidas e a ameaça de novos impostos sobre emissões. Atualmente, o setor é responsável por 2% a 3% das emissões globais de CO₂, e a falta de ações robustas pode ampliar esse número, à medida que outros setores reduzem seus impactos ambientais mais rapidamente.

O protótipo da JetZero, planejado para voar até 2027, promete ser até 50% mais eficiente em consumo de combustível do que os modelos convencionais. Isso será possível graças à combinação de asas e fuselagem em um único formato integrado, que reduz a resistência ao ar e otimiza o desempenho aerodinâmico. Com capacidade para transportar entre 200 e 250 passageiros, a aeronave se posiciona entre os populares aviões de corredor único, como o Boeing 737 e o Airbus A320, e os maiores modelos de corredor duplo.

Meta desafiadora: emissões líquidas zero até 2050

Embora o design revolucionário da JetZero traga expectativas, a descarbonização completa da aviação exigirá uma combinação de soluções tecnológicas e políticas públicas. O caminho rumo às emissões líquidas zero está fortemente ligado à adoção de combustíveis de aviação sustentáveis (SAF), considerados fundamentais para reduzir a pegada de carbono do setor.

Segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), o setor precisará de um investimento médio anual de US$ 128 bilhões para acelerar a produção e uso de SAF e tecnologias limpas. Atualmente, a produção global de SAF é de apenas 1,5 milhão de toneladas por ano, enquanto a meta para 2030 é alcançar 24 milhões de toneladas, chegando a 500 milhões até 2050.

Porém, esse avanço ainda enfrenta desafios. Apesar de aviões modernos poderem operar com até 50% de SAF misturado ao combustível convencional, a oferta desse combustível sustentável permanece limitada, principalmente devido ao alto custo e à baixa escala de produção.

A busca por inovação na indústria aérea

Enquanto a JetZero busca acelerar seus esforços para colocar aviões de asa integrada no mercado, gigantes do setor, como Airbus e Boeing, também apostam em inovações sustentáveis. Ambas as fabricantes prometem que todas as suas aeronaves estarão prontas para voar com 100% de SAF até 2030. Além disso, a Airbus lidera pesquisas no desenvolvimento de aviões movidos a hidrogênio, prevendo o lançamento de um modelo comercial até 2035.

Um exemplo recente dos avanços da Airbus foi o teste bem-sucedido de uma célula de combustível de hidrogênio, sinalizando que novas tecnologias de propulsão estão a caminho. 

Promessas e ceticismos no horizonte

Apesar das grandes promessas, analistas do setor estão divididos sobre os prazos ambiciosos da JetZero e de outras empresas inovadoras. Para muitos, atingir emissões líquidas zero até 2050 ainda parece um objetivo distante, especialmente diante do aumento projetado no número de voos e da lenta adoção de SAF e novas tecnologias.

Segundo estudos da consultoria Bain, mesmo com as iniciativas atuais de descarbonização, as emissões globais da aviação devem aumentar 3,4% até 2030 em relação a 2019. Isso porque o crescimento do setor —principalmente em mercados emergentes— continua a superar os esforços para reduzir as emissões.

O futuro sustentável da aviação dependerá de políticas públicas que incentivem a transição energética no setor. A JetZero, por exemplo, já obteve um contrato de US$ 235 milhões com a Força Aérea dos Estados Unidos para desenvolver uma aeronave demonstradora. Esse apoio pode acelerar os testes e a produção de sua tecnologia, que é vista como uma solução viável para atender às metas climáticas no médio prazo.

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